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Slow J- The Free Food Tape

Sou um grande ouvinte de música. Quer dizer, não há um dia em que não coloque os fones nos ouvidos e carregue play. Seja em que plataforma for, estou sempre carregado de álbuns e músicas soltas que me permitem relaxar, pensar e simplesmente imaginar. De tanta quantidade de álbuns que tenho, seja em formato físico ou digital, há um género que é predominante: O RAP. Seja português ou americano, seja mais lírico ou algo mais trap, nova ou velha escola, eu tenho e eu ouço. Desta forma, quando me surgiu a oportunidade de colaborar com este projeto, pensei imediatamente em proceder a análise de álbuns e dar a conhecer alguns dos nomes emergentes ou trabalhos que merecem ser destacados. Tratando-se de um site português com um título que envolve Camões, é normal dar mais ênfase à musica criada e cantada na nossa língua materna e , por isso, surgiram-me logo um projeto recente à cabeça para me debruçar : «Reflexo», de Dillaz. Contudo, e ao remexer em músicas que já não ouvia há algum tempo, encontrei um projeto que realmente me voltou a captar a atenção de outrora. Assim, hoje vou abordar um EP lançado em 2015,cujo o seu criador cada vez faz mais furor e merece ser reconhecido:« The Free Food Tape», por Slow J.

Slow J, nome artístico de João Batista Coelho, é um músico – e aqui realço músico – e produtor oriundo de Setúbal. É também o autor de um dos EP’s mais frescos do Hip-Hop nacional. Fresco não no sentido de ser novo, mas por ser uma lufada de ar fresco para o panorama do hip-hop português. « The Free Food Tape» , conta com sete faixas, uma produção enorme e uma voz fantástica por cima da batida que resulta num projeto simplesmente bonito. É um trabalho perfeito a todos os aspetos e faltam-me objetivos para o caracterizar, por isso, irei tentar fazê-lo música por música:

I-Objetivo: A primeira música conta com apenas 1:38, mas dá o mote para entender o que ai vem. Em apenas tão pouco tempo de música, Slow J começa numa batida que arrepia e uma voz forte que o caracteriza, acompanhado de uma lírica que nos transmite o seu pensamento. Nesta música, começa tudo. É o seu objetivo, como o título indica, de “ir contra gigantes sem temer cair”. A música conta também com uma retroespetiva de quem era e de quem quer ser.

II-Portus Calle: Começamos a segunda música com um debate entre o ser normal e furar os paradigmas, pelo menos é essa a interpretação que faço. J, aqui afirma que quer ser mais do que normal, tem um objetivo, um sonho e quer vivê-lo fora do que está estabelecido, porque “nunca me vão ter nessa prisão”. Quer ser ele e não normal, e quer que Portugal faça o mesmo. Nos últimos dois versos, o músico quer que o seu país natal perca o complexo de inferioridade. Uma música que conta com um refrão que fica no ouvido e um flow fantástico.

III- Tinta da Raiz : Uma das minhas preferidas da EP. Conta com videoclip e com notas da música de Aline Frazão- Assinatura de Sal. Debruça-se sobre o constante trabalho e pequenos passos para atingir um bem maior. Logo no primeiro verso, aborda o dia-dia e a importância do sonho para o sucesso. O sonho tem de ser grande, porque limitar-nos é cortar as nossas próprias asas. E é por aí que a música continua, nesse tom, nesse objetivo e sacrifício diário. É das músicas com mais rap do álbum, mostrando a sua versatilidade.

IV-Pai Eu: Uma música cujo refrão diz muito. O refrão aborda a criação de um artista mas, também, a realidade de trabalharmos e sermos mal pagos, repudiando aquilo que realmente queremos ser. Mas para Slow J não funciona assim: O cantor faz o que quer e não está à espera que o destino lhe traga o que ambiciona, Slow “ diz ao Karma quem eu sou”. Uma música que admiro bastante pelo primeiro verso, onde J responde ao grande estereótipo do RAP, afirmando que sim, é poesia, apesar de não ter sido revisto por uma academia. E que é uma forma de nos expressarmos como os poetas de outrora o faziam, como Bocage, um dos poetas mais controversos.

V- O Cliente: Algo que me põe a pensar. A canção começa com a repetição “ um cliente nunca tem razão” , por oito vezes, contrariando a famosa frase “ o cliente tem sempre razão”. Inquiri-me o que queria dizer com isso, mas à medida que os segundos avançam e as palavras são ditas percebo o significado: O cliente são os alunos, e estes, perante os professores, nunca têm razão. A escola molda-nos à sua medida e apaga as nossas opiniões, “amordaça”, como diz o autor, e isso nada ajuda “ no teste da vida, onde o dez a ti não te ajuda na avaliação”. É uma música muito bem construída que nos deixa a pensar.

VI-A Origem: Origem é o título porque, faças o que fizeres, o que te leva a fazer é a paixão que tens por essa coisa. A primeira faixa da EP conta um objetivo e é essa a origem e sua paixão pela música. No momento em que deixas de fazer por o teu objetivo e tentas fazer por outro motivo qualquer, começas a questionar os porquês e perdes a essência. É uma música que dá que pensar em relação a uma carreira. Um arista faz música porque gosta e canta, normalmente, o que sente a fase da vida por qual passa naquele momento. Contudo, a partir do momento em que ganha algum estatuto vai querer manter a sua base de fãs e fazer música para manter essa mesma, perdendo a verdade da sua obra. Faz lembrar Fernando Pessoa quando se debruça sob o tema de “ O poeta é um fingidor”.

VII- Cristalina: Esta é a música por qual no início dei ênfase à sua caracterização como músico. Embora seja um álbum de RAP, Slow J não é um rapper, mas sim um músico. Slow quer fazer música, seja qual for o tipo e quer fazer sempre da melhor forma que for possível. Cristalina demonstra isto mesmo. É uma obra que foge ao género do álbum e é linda. Linda é o melhor adjetivo que arranjo para a descrever, pois é um adjetivo simples que se interliga à simplicidade da música. A voz que o cantor utiliza é simplesmente magnífica. Já a mensagem em si é também muito bonita: Dizer ou não a verdade sabendo que essa vai magoar o outro. E o videoclip mostra muito bem essa diferença quando nos coloca crianças e adultos sob esta situação : A ingenuidade da criança fá-la dizer a verdade, embora magoe, ou não, o outro; já os adultos vão pensar realmente se o dizem ou não.

Se tivesse que dar uma nota ao álbum daria 4 estrelas e meia. Mas isto vale o que vale, pois não sou nenhum profissional. De qualquer maneira, só não dei 5 porque seria uma nota muito difícil de bater nas próximas revisões de projetos. A EP pode ser ouvida no canal de Youtube do cantor, aconselho.


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