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A magia dos Óscares está a desvanecer-se?

A 91ª cerimónia dos Óscares permitiu-me criar várias teorias acerca do futuro da cerimónia cultural mais importante da atualidade. Estará o mundo a preparar-se para deixar de lado a noite que celebra a sétima arte? Vamos por partes.


A fragilidade da Academia e o medo de dar passos em falso foi mais que evidente. Por duas situações, a organização recuou em decisões que estavam tomadas. A primeira, que passava pela escolha de Kevin Hart como principal apresentador da cerimónia, foi anulada depois de divulgadas algumas mensagens homofóbicas proferidas pelo ator há cerca de 7 anos. A segunda, centra-se naquilo que seria uma opção comercial, em que existia a intenção de entregar 4 estatuetas de carácter técnico durante os intervalos comerciais (decisão que a meu ver seria um autêntico “tiro no pé”).


Ainda em relação a Kevin Hart, não digo com isto que as mensagens não merecessem a polémica que se instalou, mas deverá alguém ser eternamente julgado por declarações que fez noutra época? Hart não foi afastado pelas declarações em si, mas sim porque a Academia teme o fim da grandeza desta cerimónia, por isso, tudo o que possa contribuir para o desaparecimento deste hábito cultural deve ser evitado ao máximo.


Na América, em 2018, a cerimónia culminou com a pior audiência da sua história (26,5 milhões de espectadores), uma tendência de descida que se verificava desde há vários anos. Em Portugal a tendência era completamente inversa. Em 2018 estiveram 628 mil pessoas ligadas na SIC. Não se percebe então o que terá levado a que nenhum canal de sinal aberto decidisse investir nos direitos televisivos dos Óscares. A FOX comprou-os, escolhendo algumas vozes da RFM para fazer, em direto, os comentários da gala. Na América, segundo a Variety as audiências subiram (29,6 milhões, mais 14% em relação ao ano passado). Em Portugal, os números desceram de forma vergonhosa (apenas 191 mil espectadores viram a cerimónia).


O aumento das audiências na América pode justificar-se, provavelmente, com as polémicas que estiveram em torno da cerimónia deste ano e das quais falei anteriormente. Ainda assim, no ano passado e no seguimento desta teoria, seria de esperar que as audiências tivessem sido melhores, depois do que foi a troca de envelopes de 2017, o que podia ter criado interesse generalizado para o que seria a cerimónia seguinte.


De qualquer das formas, e enquanto amante de cinema que sou, a escolha dos canais de sinal aberto é para mim incompreensível, ainda para mais com o aumento das audiências registado no ano anterior. Para além de uma má escolha editorial, parece-me até um verdadeiro atentado aos deveres para com a sociedade que, até os canais privados, devem ter em conta.


Sobre a cerimónia em si, acredito que em breve a Academia será obrigada a repensar o formato. O típico guião em que atores conhecidos leem um discurso forçado antes de apresentarem os nomeados, a que se segue o anúncio do vencedor, que por sua vez agradece à família, aos principais colegas, ao gato e ao vizinho parece-me gasto. Este ano por exemplo, nenhum discurso conseguiu o “abanão” que outros, em anos anteriores, registaram. O mais sentido foi mesmo o de Olivia Colman, talvez até porque também ela pensava que seria Glen Close a sair vencedora.


O momento alto da 91ª cerimónia dos Óscares foi, para mim, a atuação de Bradley Cooper e Lady Gaga. Os dois cantaram “Shallow”, canção que foi posteriormente premiada, mas melhor que a atuação foi mesmo a cumplicidade mais que evidente, que suscitou um pouco por todo o mundo insinuações de que o romance terá trespassado o filme “Assim Nasce Uma Estrela”.


Melhor que isto, e para terminar, só a “chapada de luva branca” que Roma deu aos críticos das plataformas de streaming, que apenas continuam a vê-las como um inimigo e não como aquilo que será, muito em breve, um contributo enorme para a vivacidade da sétima arte.


Não sei até que ponto o facto de a cerimónia de 2019 ter passado ao lado de grande parte da população portuguesa pode mesmo ter comprometido este hábito cultural no nosso país. Falou-se de Óscares como sempre, viu-se os filmes dos Óscares como sempre, apenas não se viu a cerimónia dos Óscares como sempre. A televisão nacional falhou para com o cinema e resta a esperança de que a nível mundial os Óscares tenham renascido, de forma a manterem-se vivos no centro dos hábitos culturais da população.




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