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Glifo

A Glifo é uma galinha da raça Preta Lusitânica - autóctone de Portugal – que pertence aos alunos de Agricultura Biológica do Instituto Superior de Agronomia. Ela come caracóis, lesmas, lagartas, moscas, restos vegetais e ervas, sendo portanto uma enorme aliada no combate, em modo biológico, de infestantes e pragas no Horto Professor Lopes Aleixo, no ISA.


Este animal, pelas nobres funções que desempenha, tem o nome do famoso e polémico herbicida Glifosato, o herbicida mais usado em todo o mundo, por ser o mais barato e eficaz.

Este herbicida tem estado envolto em polémica desde que a Agência Internacional para a Investigação sobre o Cancro (IARC), da Organização Mundial de Saúde (OMS) o classificou como “provavelmente carcinogénico para humanos”, em 2015.


Esta semana saiu uma notícia em que diz, nas letras gordas, que todos os portugueses estão contaminados com Glifosato. Quem se der ao trabalho de ler a notícia rapidamente percebe e validade deste estudo que nem o chega a ser, pois trata-se de uma publicação da plataforma “Transgénicos Fora”, em que se fazem análises à urina de “voluntários”. Estas plataformas já nos habituaram a fazer de tudo para causar o pânico entre as populações, “criando factos” com desinformação e falta de rigor científico.


Pessoalmente, não dou crédito a “estudos” de associações como a PETA, a Transgénicos Fora, a ZERO ou tantas outras, estas plataformas e organizações são os maiores lobyse “máquinas de fazer propaganda” que temos no mundo, aliadas a partidos populistas como o PAN são mesmo perigosas para a nossa sociedade.


Tenho a certeza que o leitor ficará logo receoso de ouvir palavras como Monsanto, Organismos Geneticamente Modificados, Pesticida, Tourada etc. Tudo isto são frutos de campanhas muito bem arquitetadas com objetivos diferentes mas, normalmente, com muita desinformação pelo meio e com a conivência da maioria dos mediaportugueses por se tratarem de temas, dizem eles, fraturantes.


A propósito disto, deixo para consulta um artigo da SIC Notícias, da autoria de David Marçal, Bioquímico e divulgador de ciência, em que é explicado convenientemente o porquê da maioria destes supostos estudos não terem qualquer validade

científica.


O Glifosato é a substância ativa de vários herbicidas que atuam no metabolismo celular, na biossíntese dos aminoácidos dos vegetais, inibindo uma enzima, por isso matando-as. Assim, em teoria, este herbicida será seguro para os animais pela simples razão de que estes não têm esta enzima.


Quanto ao potencialmente carcinogénico deixem-me que diga que o álcool, o tabaco, a carne processada, a cafeína, a radiação solar, as pílulas, as tintas de pintura, o peixe salgado, os esteroides, a carne vermelha, os telemóveis, o pó de talco, a aloé vera, o couro, o açúcar, a tinta do cabelo e tantas outras substâncias são consideradas pela OMS como potencialmente cancerígenas. (ver artigo do El Mundo). A lista disponibilizada é enorme e uma grande parte das substâncias que lá se encontram são do nosso uso diário.


Não quero com isto alarmar ninguém, antes pelo contrário. Quero apenas demonstrar que muitas das substâncias com que lidamos diariamente estão classificadas com potencialmente carcinogénicas para humanos, e passamos muito mais tempo da nossa vida em contacto com estas do que com o Glifosato.

O Glifosatotem sido apontado como causa de cancros em jardineiros e agricultores que estão suscetíveis a grandes quantidades de produto e que não usam os equipamentos de proteção Obrigatórios!


O famoso caso, que correu o mundo, do jardineiro americano que acusou a Monsanto de lhe ter causado cancro tem muito que se lhe diga, para os mais interessados deixo um fantástico trabalho da jornalista Vera Novais para o Observador em que ela explica detalhadamente este polémico caso: “É preciso alertar que, praticamente todos os estudos feitos sobre o Glifosato não encontram relação com o aparecimento de cancros, e os que encontram, são estudos de caso-controlo, ou seja, trabalhos de investigação que pegam num grupo de pessoas que têm uma determinada doença e num grupo de pessoas o mais semelhante possível (em termos de idade, género, etnia, educação, etc.) e tentam encontrar quais os pontos comuns dentro do grupo dos doentes que não tem reflexo no grupo controlo. Estes trabalhos podem ser úteis para estudar problemas pouco conhecidos, mas sofrem de enviesamento quando os investigadores já definiram o que querem encontrar, como no caso do Glifosato.” (Observador, 2018)


“É preciso dizer ainda que a ESFA, agência europeia para a segurança alimentar, também publicou um relatório sobre o Glifosato, mas com conclusões muito diferentes da IARC. “Para a EFSA não é provável que o Glifosatopossa causar cancro em humanos e não encontraram indícios de que possa danificar o ADN (genotoxicidade) — um mecanismo que podia justificar o aparecimento de um cancro. Mais: a EFSA disse não ter encontrado dados que apoiem as conclusões da IARC.” (Observador, 2018)


Sobre isto, vale a pena frisar que todos os anos são retiradas inúmeras substâncias ativas do mercado, porque, estudos concretos e pareceres tecnicamente competentes levam a crer que têm efeitos nefastos para o homem e ambiente. Os organismos europeus são cada vez mais eficazes a controlar a avaliar o risco associado aos produtos fitofarmacêuticos. As universidades de todo o mundo fazem um trabalho extraordinário, imparcial e rigoroso na avaliação destes temas e muitos têm sido os resultados que sugerem a retirada de produtos do mercado, sem ser necessária a “intervenção divina” de ativistas e populistas.


Nesta altura o leitor deverá julgar que eu tenho fortes convicções na defesa deste herbicida. Nada mais errado. Não me considero com competência para julgar os seus efeitos.

Existem outras formas de praticar agricultura sem recorrer a herbicidas. São mais caras e portanto os consumidores têm que se convencer que se querem “bio” têm que o pagar. A escolha, como sempre, aliás, é de quem compra.


Termino como comecei. Aquela galinha, com um nome tão controverso, nem faz ideia do papel que pode ter num futuro apostado na economia circular. Porque não usar galinhas para controlar infestantes ou rebanhos de ovelhas para apararem os relvados públicos? Parece loucura mas é uma questão de tempo…


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