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Ensaio sobre a autoridade do treinador (Caso Kepa)

Jogou-se ontem a final da Taça da Liga Inglesa em futebol. Em Wembley, estádio de má sina para o Chelsea esta época (já antes foram derrotados pelos rivais Tottenham Hotspurs em duas ocasiões), os ‘Blues’ sucumbiram nas grandes penalidades perante o Manchester City. Tudo normal, não fossem os últimos minutos do encontro, no mínimo, polémicos.


Antes da própria partida, Maurizio Sarri, treinador italiano do Chelsea, tinha ressalvado que Kepa Arrizabalaga, guardião espanhol (basco) poderia não estar disponível para o jogo da final, devido a problemas físicos. Kepa foi a jogo e jogou 120 minutos (tempo regulamentar e prolongamento), mas não foi o que deveria ter acontecido.


Kepa demonstrou ter aparentes problemas físicos em campo, especialmente durante o prolongamento. A minutos do final do prolongamento, Sarri deu ordem de substituição, para que Willy Caballero o rendesse nos últimos instantes da partida e nas grandes penalidades. Não aconteceu. Kepa Arrizabalaga recusou-se prontamente a sair, qual criança mimada, desobedecendo às ordens soberanas do seu treinador, perante uns bons dois minutos de jogo interrompido e de insistência. Ao mesmo tempo, Caballero, um guarda-redes com 18 anos de futebol a alto nível (Kepa tinha seis quando este se estreou como sénior) olhava confuso enquanto Kepa recusava sair e Sarri saía e voltava à zona reservada à equipa técnica.


Contextualizando tudo ao pormenor: Kepa Arribazalaga tornou-se no guardião mais caro da história este verão, ao abandonar o Athletic Bilbao a troco de 80 milhões de euros. A transferência em si já foi extremamente inflaccionada, por representar uma substituição à pressão de Thibaut Courtois, saído para o Real Madrid e por parecer uma tentativa show-off de bater o recorde acima mencionado, pertencente a Alisson Becker, contratado pelo Liverpool duas semanas e meia antes.


Desde então, a justificação para a verba dispendida na contratação de Kepa mantém-se uma incógnita. Kepa não tem sido propriamente uma má solução nas redes dos ‘Blues’, mas também está longe de se mostrar um guarda-redes de topo mundial (como Alisson, como Courtois e como qualquer outro guardião em equipas do top-6 da Premier League).


Com este incidente, essa justificação não só continua por dar, mas também fica comprometida. Kepa pode até ser um futuro herói do clube londrino, mas a sua falta de profissionalismo na tarde de 24 de Fevereiro também deixará uma enorme marca na sua carreira.

É uma situação da qual ninguém saiu a ganhar.

Kepa pareceu uma criança imatura, incapaz de distinguir a hierarquia de um clube e de reconhecer a autoridade de um treinador.

Já Maurizio Sarri, alvo de críticas pelo desempenho do Chelsea na época 2018/19, incapaz de fazer Kepa sair de campo, injustamente e em momento de compreensiva frustração pareceu um líder fraco (porque um treinador é um líder), com o decorrer do acontecimento, parece ter dito adeus ao seu posto de trabalho.

A questão que se impõe aqui, perante um caso destes, é: será que um treinador tem mesmo mais autoridade que um guarda-redes que custou 80 milhões de euros? Não é propriamente o peso da quantia. À data da escrita deste artigo, 12 são os jogadores que custaram mais que Kepa, mas nenhum guarda-redes ultrapassou esse valor. De resto, até ao verão passado, o guarda-redes mais caro da história tinha sido Gianluigi Buffon (que, muito possivelmente, é também o melhor de sempre), e esse custou “apenas” 52 milhões.


Onde quero eu chegar? Em caso de polémica, o caminho fácil a seguir no caso de algum contrato ter de ser rescindido, é despedir Sarri, que já tem vindo a ser criticado. Não é despedir, vender (ao desbarato) ou colocar no banco ou na bancada um jogador que representou um investimento deste tamanho e que é dono do recorde de um valor pago para alguém da sua posição. E a verdade é, já estamos a ver a materialização desta ideia. Na conferência de imprensa pós-jogo, Maurizio Sarri acabou quase a defender Kepa, classificando o incidente como um mal-entendido, porque Kepa na realidade não estava com problemas físicos, mas sim a queimar tempo.


Nada há a fazer, Sarri. Na cabeça dos adeptos e amantes do “beautiful game”, o incidente foi ridículo e não tem lugar em grandes (ou pequenos) palcos. O treinador não deve ser desrespeitado desta forma. A sua autoridade não deve ser questionada, muito menos por um jovem que deve batalhar para justificar o investimento nele depositado.


Há apenas um culpado por esta situação: Kepa. Contudo, não será Kepa o sacrificado depois deste incidente. As minhas desculpas, Maurizio, mas, infelizmente, é este o futebol moderno.


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