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#FFFFFFazes Bem Melhor, Profjam


É a primeira vez que faço um artigo deste estilo... uma review a um álbum (talvez mais reviews se seguirão, seja a álbuns, a filmes ou a séries), e logo de um artista que não só divide opiniões, de forma geral. Divide a opinião de quem gosta de rap verdadeiro. Divide a minha própria opinião. Em parte porque conheço o trabalho de Profjam, talvez muito melhor do que a maioria dos seus ouvintes.


Profjam é um rapper capaz do excelente e do mau (nunca do miserável, pensava eu antes da faixa 10 deste álbum - Malibu). Pena que o excelente pareça ter ficado esquecido no bolso de um casaco que lhe ficou justo quando a sua Think Music começou a crescer. Em #FFFFFF, lançado a 22 de Fevereiro, isso é notável, pelo menos para mim. Fiquem para os próximos parágrafos.


De forma curta e grossa: esta mixtape é facilmente a pior de Profjam. Sinceramente, mais não esperava. Já passaram três anos desde a Mixtakes e, com base nos trabalhos que foram saíndo desde então, a decepção que Profjam nos tem proporcionado tem sido notória. Percebo que deixe o underground em prol de algo mais rentável, não percebo que deixe a sua essência em casa cada vez (quase) que entra no estúdio para gravar mais uma faixa. Mas chega de críticas sem fundamentação. Vamos começar por analisar o ponto mais negativo.


Apesar de me decepcionar já de forma rotineira, até à já referida Malibu, ainda não tinha sido capaz de odiar profundamente alguma coisa da mixtape. Nela há apenas um foco: o foco na dita “vibe”, que parece ser hoje a única coisa a valorizar no rap. De resto, Profjam tem uma abordagem às críticas que lhe são feitas, mas que lhe sai completamente ao lado. De resto, toda a faixa reflete uma atitude de conforto e de quem não está minimamente disposto a voltar às suas origens. De resto, toda a faixa pode ser uma completa contradição: a letra é completamente vazia e sem sabor, algo criticado em Água de Côco; para além disso, toda a letra reflete uma imaturidade não representada em diversas faixas do álbum (algumas das mais positivas - já lá vamos). A partir daqui vamos pelo princípio.


Verdade se diga, a primeira metade do álbum foi uma verdadeira montanha russa. Começou com À Palavra e com uma introspecção com foco na relação passado-presente, reflectindo precisamente uma mudança na mentalidade, fruto do seu próprio crescimento. Parecia promissor, mas depressa caiu por terra a minha expectativa com Minha, na qual já se ouve o “mais do mesmo” do rap de hoje em dia: auto-glorificação sem substância e a letra a parecer um mero coro do beat.


Água de Côco nem assenta bem como terceira faixa, após uma música com as caraterísticas referidas, mas entende-se os porquês de Profjam: é difícil odiar-se uma música sua. É difícil que a sua música pareça sem sabor, como a dita água de côco. Há quase sempre uma pitada de sal ou uma colher de açúcar no seu rap. Mesmo que não se goste, há quase sempre algo que sobressai e que se faz pelo menos valorizar (ainda que não se goste) o seu trabalho. O seu rap não é dentro do que é normal, regra geral, e isso é evidenciado no primeiro single da “mix”.


As próximas três faixas compõem o restante Santo Graal de #FFFFFF. Ninguém que conheça o verdadeiro Profjam se ia importar caso o álbum acabasse em Tou Bem. Ainda que nela falte mensagem, é aqui que as verdadeiras capacidades mais técnicas de Profjam, como a métrica e o flow compensam totalmente a falta de uma lírica não tão sumarenta. Props pelas referências e pela colaboração com Lhast, quer na produção, quer no refrão. Mas antes desta, surgem dois dos sons mais sumarentos da mixtape: Na Zona e À Vontade, com Fínix MG. Se o primeiro é uma mensagem de aconselhamento para quem desperdiça a vida (como Mário Cotrim nos leva a crer que desperdiçou a sua em adolescente), o segundo é só o melhor tema do álbum. Referências mitológicas, cinematográficas e, como prenda para quem gosta verdadeiramente de “real rap”, uma referência a Allen Halloween, cruzam-se com mais uma história de amadurecimento próprio. A colaboração com o melhor egotripper da Think Music (de longe, Fínix MG) só veio ajudar, com Fínix a parecer a estrela da faixa para quem só ouve a música de relance. Ainda assim, oiçam-na bem.


Desde aí, é tudo palha até à última faixa. A conjugação Profjam/fast-flow em O Hino é uma daquelas coisas que tem tudo para correr bem e corre mal, já que o conteúdo é nulo. A Caveira é mais do mesmo - a já referida auto-glorificação sem substância. Sobre Malibu já estamos conversados e...


O álbum termina com chave de... prata. Se Calhar é a faixa escolhida para fechar a mixtape, e bem, diga-se. Uma faixa de “enlightenment pessoal”, com mensagem motivadora, que demonstra uma certa sede de Profjam na busca por mais do que o hidrata. Devo dizer que essa mensagem me fez acreditar que o próximo trabalho de Profjam poderá ser um regresso às origens. E tão bom que era...


Ah, o interlúdio, chamado precisamente Interlúdio... contei-o como faixa. Encaixa-se entre O Hino e A Caveira e merece uma crítica por si só. A única frase dira e repetida no interlúdio é “Todas as cores vivem dentro do white”. Remete para uma ideia de diversidade, correcto? O “white” é uma referência ao próprio #FFFFFF, cuja capa é branca (cor cujo código Hex é, precisamente, #FFFFFF). Ou seja, de acordo com a frase, o álbum deveria ser rico na diversidade... mas não é. O “self-centrismo” é um tema comum a todas as músicas do álbum (tal como a presença de autotune). As que não têm o “autofoco” (sem menção à revista de automóveis) como temática principal, têm-na como temática adjacente.


Resumindo... não posso dizer que odeio o álbum. Mas não posso dizer que gosto. Não gosto. Não o quero ouvir na íntegra uma vez mais, como fiz e ainda faço com as mixtapes The Big Banger Theory (2014) e Mixtakes (2016). As expectativas não eram altas e, como tal, não me posso considerar totalmente desapontado, mas também não me posso não sentir desapontado. Porque Profjam não é isto. Também é, talvez, mas não é... só isto. Isto é que ele criticava há uns três anos... aguardemos melhoras.


Segue-se a questão: que representa #FFFFFF no legado e no futuro de Profjam? É cedo para responder. Profjam seguiu um caminho lucrativo na sua carreira, apresentando música mais comercial e menos reflectora da sua brilhante massa cinzenta (no sentido lirical) nos últimos anos. Mas se o caminho lhe leva a cifrões, também o impede de se tornar num ícone incontornável do “hip hop tuga”, como se profetizava há um par de anos apenas. São opções... não o posso censurar.


Nota final: 4.5/10

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