The Hunger Games: O futuro do nosso presente
- Andreia Faria
- 3 de ago. de 2016
- 2 min de leitura
Ontem vi o filme “The Hunger Games”, pela primeira vez. Sim, eu sei, estou alguns anos atrasada em relação ao furor que esta saga dos livros de Suzanne Collins criou quando foi feita a adaptação cinematográfica destes. Esta autora, uma veterana na arte de contar histórias, fez a partir de uma ideia que envolve a luta pela sobrevivência, o que considero ser um vislumbre metafórico do que é o nosso presente e provavelmente será o nosso futuro. Não posso deixar de admitir que durante todo o filme senti que havia sempre uma mensagem subliminar por trás de todo o enredo das personagens, tal como o ambiente e as circunstâncias que as envolviam.
Durante duas horas vi representada de uma forma bastante certeira a sociedade que temos hoje. Não literalmente, claro. Por certo não vemos pessoas a lutarem entre si até à morte para preservar a sua própria vida, em prol de um programa de televisão. Falo figuradamente, em relação à forma como muitos de nós se atropelam para chegar a um certo nível ou para conseguir alcançar o seu próprio objetivo em específico. É generalizado o pensamento de que a vida é feita de patamares. Ouvimos tantas vezes frases motivacionais sobre “os degraus da vida”, “as pedras que nos interpelam o caminho” e “os sacrifícios que temos de fazer para chegar onde queremos”. E claro, não há nada de mal em ter objetivos, em lutar para se subir um degrau acima ou em ambicionar a estabilidade obtida pela segurança que o topo da cadeia nos dá. O mal começa quando os valores de cooperação, auxílio e de comunidade são esquecidos e a vontade de chegar mais longe, custe o que custar, prevalecem. Refiro-me também às desigualdades sociais cada vez mais patentes na nossa sociedade, à abundância que poucos usufruem e ao escasso que resta para muitos mais. Existem minorias, os núcleos de poder, que controlam este jogo da luta pela subsistência. Politicas, economias, decisões que nos afetam quer queiramos quer não. Tecnologias que controlam o nosso ambiente e a forma como comunicamos.
De uma certa forma, somos todos peças de um jogo que é a nossa vida. Temos de aprender a jogá-lo, respeitar as regras e criar metas. Não querendo ser extremista mas pensando em muito do que se passa hoje vemos a ser despoletado um apocalipse de valores. Ou melhor, da não-existência destes. Uma revolução generalizada que promove a importância da individualização em prol da desvalorização do engrandecimento de outra pessoa.
Já Camões na sua obra dos Lusíadas referia os problemas do acesso desonesto ao poder, que envolvem questões como a ambição, o interesse pessoal ou a simulação, e advertia que o Homem deveria sempre exercer corretamente o poder em defesa do bem comum e das leis humanas e não para proveito próprio. Séculos depois e as mesmas questões prevalecem, resta saber se o nosso passado e o nosso presente se transformará também num futuro pintado pelas mesmas falhas.

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