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Holly Hood- O Dread que matou Golias

Sou um grande apreciador de música, como já referi, e, portanto, quis aproveitar a oportunidade que me deram para escrever para poder divulgar os projetos que mais me captaram a atenção e merecem realmente esta propaganda. Se da ultima vez abordei a EP de Slow J por considerar algo novo e diferente para o RAP nacional, hoje trago mais um projeto que, no mesmo género musical mas numa linha diferente, trouxe algo de novo para a mesa.


«O Dread que Matou Golias», ou «ODQMG», é o mais recente projeto lançado pela Superbad, sob a autoria de Holly Hood que conta ainda com a participação de um dos melhores produtores nacionais: Here’s Johnny. Um projeto dividido em três partes que já conta com a primeira parte disponível e que bastou para me convencer que vem aí algo excelente. O facto de ser dividido em três partes serve uma jogada inteligente de fazer furor durante mais tempo, em vez de lançar o álbum de uma vez e depois “o novo tornar-se velho.”




O rapper já me tinha captado a atenção nas músicas que partilhou com Regula em «Gancho» e «Casca Grossa», este projeto apenas serviu para solidificar a sua marca. Quando referi que trazia algo de novo para a mesa, significa que é um rompe paradigmas. Verdade seja dita, embora o RAP americano seja muito ouvido em Portugal e os nossos MC’S se inspirem em artistas estrangeiros, tentar trazer o que se faz lá para cá nunca foi bem aceite, pelo menos é essa a opinião que tenho. Mas Holly e Johnny não tiveram medo de arriscar e trouxeram algo com uma sonoridade americana, com as batidas a fazerem lembrar os mais recentes projetos americanos, numa época onde Future e Drake se destacam em melodias produzidas por Metro Bommin. Por isso, este é um projeto que me agradou bastante por ter batidas fantásticas, a fazer lembrar o que vem lá de fora, sobre as letras e o jogo de palavras de Holly, trazendo algo inovador, seguindo a pisada do Golias: Regula.


É um facto: Regula é dos MC’S mais criticados e adorados em Portugal exatamente por isto que referi. Holly é um dos pupilos de Regula e trouxe a mesma onda, mas muito bem conseguida e com enorme espaço para evoluir. Por isso, Holly é o Dread que quer matar o Golias, Regula, no sentido de querer ser um dos grandes.


Tomando a análise, «ODQMG» conta já com a primeira parte disponível e é constituída por sete músicas, todas elas bem conseguidas à sua maneira:

I-O Meu Nome: A primeira música conta com uma enorme batida por trás, algo que nos capta a atenção de imediata. Aqui há que dar o merecido destaque a Johnny, não só por esta música mas pelo álbum todo. De seguida, o refrão: a forma como é cantando e o efeito colocado sob a voz, com as mudanças de ritmo por parte de Holly, faz imenso lembrar, e correndo o risco de me repetir, o que se ouve lá fora. De qualquer maneira, é muito bem conseguido e partilha uma mensagem que também não deixa de ser importante: Holly está aqui para marcar o seu nome e construir tudo sob o seu próprio esforço. E ao longo da música é isso que tenta demonstrar: “ Não nasceu para estar incógnito”, sendo que todos torcem para que ele se safe no meio de tantos, tendo sempre cuidado porque há quem lhe deseje o mal e, por isso, tenta ser o melhor lutando contra quem anda a “almoçar por afinidade” porque “ E não é querer ser má rês ou falta de humildade, mas boy eu estou a cuspir marés vocês só humidade”. Ou seja, muitos a ter sucesso sem realmente merecer. Para além da letra, a forma como Holly rima de três maneiras diferentes na música, com o refrão, acaba por evitar que se torne monótono e mostrar como este tem um grande flow e jogo de palavras;


II- Cartas da Justiça: Conta com a participação de No Money. Mais uma vez, grande batida, grande produção e flow. Uma das minhas músicas preferidas pela forma como Holly rima e canta o refrão, mais uma vez muito bem conseguido. Aborda a vontade de ser rico e cada um se safar como pode. O esforço que é posto para não ser “ mais um na plateia” é conjugado com uma grande ambição;


III- Fácil: Se Cartas da Justiça é uma das minhas preferidas, esta é a minha preferida. Não só pela introdução hilariante mas que também acaba por deixar a entender que “ agora que sou alguém também não te quero”. Conta com videoclipe que só acrescenta brilhantismo à produção e à letra. Uma letra dedicada, provavelmente, a alguma ex namorada, mas que tem muito boas rimas e boas metáforas;


IV-Qualquer Boda: A primeira música a sair no sentido de publicitar o álbum. Conta com Regula mas mesmo assim é considerada uma das músicas menos conseguidas do projeto. Saiu na mesma altura que tinha acabado de sair o «What a Time to Be Alive» de Future e Drake e por isso as comparações não tardaram a sair juntamente com as criticas. A crítica baseava-se na falta de mensagem e “ o copianço”. Seja ou não uma tentativa de reproduzir o que toca lá fora, a verdade é que a música liricamente é fraca, mas a batida é fenomenal. Adoro músicas com boas melodias por trás e, para mim, é como a capa de um livro ou o trailer de um filme. Já aconteceu a batida não me captar e não ouvir a música e só depois de dar uma oportunidade de realmente a ouvir, vejo que liricamente é perfeita. Aqui o que me captou foi o beat e é por isso que gosto imenso da música. É uma música de festa que dá vontade de ouvir quando se está no dia mais relaxado, o que também é importante;


V-Spotlight: Mais uma vez, uma das minhas preferidas. A produção a ser fenomenal, mais uma vez, acompanhado de um ritmo calmo com uma edição de voz que acabou por acrescentar muito à música. Aborda uma relação onde Holly só quer é saber da rapariga e não sente a necessidade que todos saibam deles. Fica no ouvido, muito por culpa do trabalho de Johnny;


VI- Cobras e Ratazanas: Dispensa apresentações. É a primeira música que o público pensa quando ouvem falar de Holly Hood. Um beat de trap e uma letra com múltiplos sentidos dá isto! Um “banger”, como se costuma dizer. Realmente, se me perdesse aqui a caracterizar a música, nunca mais sairíamos, pois apresenta tantas rimas com tantos sentidos que seria uma tarefa interminável. Apenas aconselho a ouvir, porque é algo que o RAP português precisava;


VII-Panorama: Uma das mais líricas da primeira parte do projeto. Holly rima sobre a realidade que vive e sobre onde habita e foi criado, mas num tom calmo e, mais uma vez, com mais um jogo de palavras. Um grande flow e um refrão a homenagear o falecido Short Size. Gostava só de destacar um excerto que me ficou preso na memória e o repito constantemente na cabeça:

“Tudo a rir da vida sem ter guita para arranjar os dentes/ Yeah, e ninguém tem remenda/ Acredita que ouves choro quando alguém vira uma lenda/ Na corrida aos ovos de ouro vez que a história é sempre a mesma/ Poucos pegam a galinha a maior parte pega a pena”;



Se tivesse que dar uma nota, iria repetir a mesma que dei a Slow J : Quatro estrelas e meia. Apesar de num tom diferente, ambos mostram o quanto a nova escola do hip hop português está a trazer evolução e conteúdo novo. Um grande destaque para Johnny, é pecado não reconhecer o seu trabalho. O projeto pode ser ouvido aqui abaixo, depois de ter sido disponibilizado no Youtube.


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