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A Caminho de Santiago

  • João Seixo
  • 9 de ago. de 2016
  • 2 min de leitura

Há caminhos e caminhos. Depois temos Santiago de Compostela, uma daquelas peregrinações que nos transformam de corpo e alma e nos levam para lá do que pensamos ser o nosso limite. “Mais do que prometia a força humana” poderia dizer Camões. E sem dúvida que nos levou a todos nós, que o fizemos nesta primeira semana de Agosto, mais longe do que prometia a nossa força. As bolhas nos pés, as dores nos joelhos, o peso da mala nas costas, a nossa bagagem interior, as nossas discussões, os nossos problemas, o calor, a sede, o cansaço, o sono, que nos deixou perto de desistir e nos atrasou, mas ao mesmo tempo nos fez preserverar só para alcançarmos a nossa Ítaca.




O acordar a cada dia às 5 da manha para caminhar e chegar à hora do almoço às cidades onde dormiriamos. O passar por outros peregrinos, uns mais ligeiros outros com mais carga. O ouvir “Buen camino”, cantar as músicas que inventávamos, as piadas com as quais nos riamos e os jogos. Tudo isso nos transformou e tornou o caminho mais leve.


E sobretudo, era sair de noite, antes do sol raiar, ver as estrelas, desligar do mundo e estar sozinho comigo mesmo e com quem estivesse a ouvir as preces, a pensar e a olhar ao que era a minha vida, aquilo que me pesava nos ombros e aquilo que me orgulhava de fazer em prol de mim mesmo e dos outros. Mas ainda mais importante, é ver nas pedras que literalmente se apresentavam no caminho, sentir as dores, e a cada dia realmente perceber cada vez mais que a vida é esta passagem ligeira onde há momentos bons e momentos menos bons, e todos fazem parte num equilíbrio ao qual não vale a pena lutar mas sim, aceitar e ser tranquilo.


Ver as montanhas imóveis na Galiza, as árvores que abanavam as suas folhas ao sabor do vento, e as pessoas que passavam com os seus propósitos, igualmente pesadas nos ombros mas com o mesmo fogo que as levava a querer transformar-se para serem melhores. Tudo isso, e se calhar até todos os instantes que já se perdem na memória ou nem sequer lá estiveram, contribuiram para este resultado que ainda estou a tentar descobrir para onde me leva e o que fará de mim.



Porém, esta caminhada não se faz sozinho. Faz-se acompanhado, seja fisicamente, seja no coração. Só levando a força dos outros e dando a nossa força aos outros é que a conseguimos fazer. Viver em partilha é a única maneira de isto fazer sentido e apreendermos algo deste caminho, nos rumos do Homem Novo, como diz a música. E dessa partilha encontramos a coragem para chegar à nossa Ítaca, percebendo a cada dia que o que interessa é mais o caminho e o que aprendemos nele.


Mas nunca esquecendo que, quando chegados a Ítaca, somos levados pela emoção de termos alcançado aquilo que a nos propomos e as lágrimas de alegria e esforço caem sem parar. Os abraços revitalizam-nos, as mãos dadas alimentam-nos e dali saímos pessoas mudadas, sempre para melhor, sabendo agora que a nossa peregrinação é a nossa vida e devemos segui-la com redobrada força.

Mantendo Ítaca no pensamento, nunca esquecendo o que se desenrola diante de nós.



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