Fazer renascer as Humanidades
- Andreia Faria
- 13 de ago. de 2016
- 2 min de leitura
Cada vez são menos os alunos a escolher o curso de Línguas e Humanidades quando estão no secundário, e os que escolhem tirar uma licenciatura em áreas que envolvam Línguas e Literaturas, História, Filosofia ou Ciências Sociais ou Humanas são cada vez de menor número também. Eu sou de letras, sempre fui. Desde que me lembro que o único caminho que via para mim era este. E tenho uma explicação para isso: as humanidades são, a meu ver, o estudo constante das várias vertentes de todos nós enquanto pessoas inseridas numa sociedade e afetam a forma como vemos e experienciamos o mundo. Não escolhi o meu curso tendo em conta as taxas de empregabilidade, porque sei que nesse parâmetro muito do meu ânimo esvoaça, mas apenas porque me atrai perceber mais de nós, a forma como pensamos e o porquê de fazermos o que fazemos. Simplesmente porque gosto. Idealisticamente e num mundo mais espontâneo e descomplicado, decidir algo importante para o nosso futuro deveria seguir sempre esta premissa.
Mas a verdade é que só se vai para letras se for mesmo essa a vocação. O medo da matemática empurra muita gente para este mesmo curso, como se fosse uma forma mais fácil de chegar ao mesmo objetivo. Mas medo não é vocação e definitivamente, medo não é um bom impulsionador para se cumprir sonhos. Fugir a raízes quadradas, derivadas trigonometrias ou geometrias, não equivale ao sonho que muitos têm quando entram em Humanidades logo no secundário. Digo-vos mais, conseguia deixar-vos de boca aberta se contasse a quantidade de pessoas que conheço que não foram para o curso que queriam devido ao receio que tinham caso o fizessem: falta de emprego, instabilidade profissional, medo do futuro. E tenho noção de que o meu caminho vai ser muito difícil, provavelmente mais difícil do que todos os outros, caso a minha escolha fosse diferente. Vai trazer uma vida mais inconstante do que a que iria ter se seguisse outra área como o direito, medicina ou gestão e verdade seja dita, nem se pode negar o prestígio social que certas profissões como estas têm. Mas a minha escolha e a de muitos outros que escolheram o mesmo caminho que eu revela também coragem e um sentido de perseverança.
A História conta que, para financiar movimentos de guerra, sugeriram um dia a Winston Churchill, primeiro-ministro do Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial, escritor e artista, para cortar no financiamento das artes. Este respondeu “Then what would we be fighting for?”. É tão importante não esquecer o valor de ler e refletir, pensar no que somos e no que vamos ser, o que queremos mudar no presente e o que desejamos para o futuro, o que não queremos e como melhorar os problemas da nossa sociedade. Não podemos desprezar os conhecimentos que a História ou a Filosofia nos trazem. Não podemos deixar de ser criativos e independentes. Mas acima de tudo, não podemos deixar de pensar.
Camões por certo não acharia que seria uma perda de tempo as horas gastas a ler ou a estudar um livro, a escrever um artigo ou um poema.

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