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O capitalismo das matas em chamas

Viana do Castelo em chamas. Viseu em chamas. Arouca em chamas. A Madeira em chamas. Ao longo dos anos muitos outros concelhos têm estado em chamas. E há quem tenha a conta bancária “on fire” (permitam-me a expressão, penso que se adequa) com a história dos incêndios.


A verdade é que Portugal arde e há quem ganhe com isso. E também verdade é que os principais responsáveis por esta situação se alastrar por anos são, na minha opinião, os governos que o país vai tendo. As florestas não estão devidamente limpas e não são tomados os devidos cuidados de prevenção ou medidas de combate aos fogos. Com isto os incêndios sucedem-se e eu passarei a enumerar casos de quem ganha com eles:


1. Ora, é possível produzir pasta de papel com madeira que um incêndio já tenha consumido. Ou seja, para a indústria do papel, tanto faz que a madeira usada seja ou não queimada. Contudo, os madeireiros, intermediários no processo, compram a madeira consumida por chamas a um terço do preço da madeira não consumida. Porém, o preço de venda é precisamente o mesmo. Ou seja, pagam dois terços a menos, portanto lucram bem mais. Ainda este ano um madeireiro foi detido por suspeitas de fogo posto;


2. Para mim o caso mais grave que vou enumerar: acho simplesmente ridículo que o nosso país concessione o combate a incêndios por meio aéreo somente a bombeiros e a empresas privadas quando, pelo menos, o combate principal por meio aéreo deveria ser realizado pela Força Aérea. Sairia mais barato e seria feito por profissionais mais bem instruídos para o assunto. Ao invés disso, militares da Força Aérea veem os incêndios nas televisões dos quartéis a serem combatidos por meios mais dispendiosos.

Somos um país que tem 700 milhões de euros para dois submarinos mas que não investe em aviões Cannadair para combate de incêndios. Uau! Quem ganha neste ponto? Empresas privadas que combatem incêndios;


3. Na agricultura também se lucra com os fogos. Em solos ardidos, após as primeiras chuvas do outono, a vegetação florestal cresce mais tenra e atrativa para os rebanhos que se alimentarão em maior quantidade e qualidade. Assim, aumenta também a qualidade da produção animal. No Norte e Centro de Portugal é frequente que hajam fogos postos por produtores agrícolas com esse intuito. É natural. Estes lucram com o sucedido;


4. O artigo já vai longo mas faltam mais dois pontos. Às redações de vários meios de comunicação têm chegado cartas, nos últimos anos, a defender que enquanto existirem reservas de caça em Portugal, o país continuará a arder. Tal pode ser encarado como uma ameaça. Caçadores têm lutado pelo modelo de caça de regime livre, como antes sucedia em Portugal, que permitia que se caçasse em toda a floresta nacional;


5. Por fim, há o caso do ramo mobiliário. Existem terrenos nos quais se registaram incêndios há poucos anos e que estão a ser aproveitados para a construção de casas. Ora, isso é ilegal. Mas tem-se feito. E quem investe para fazer casas de habitação em zonas de incêndios recentes terá mais facilidade e diminuição de custos na apropriação dos terrenos. Parece-me mais um caso de lucro óbvio;


Finda assim a minha análise sobre o oportunismo que pode passar despercebido em época de incêndios. Ligando este artigo com o meu último: honestamente, também não me parece que fosse injusto que culpados por fogo posto fossem sujeitos a prisão perpétua ou pena de morte.


Que diria Camões sobre o aproveitamento monetário dos incêndios? Não sei. Mas provavelmente, no seu tempo não haveria: haveriam menos politiquices, o homem ainda não conhecia meios aéreos ou ramos imobiliários. E madeira queimada não servia para caravelas.



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