Sou jovem. E agora?
- Ana Catarina Cabrito
- 21 de ago. de 2016
- 3 min de leitura
Somos jovens. Vivemos na incerteza. Não sabemos que área seguir quando chegamos ao secundário. Não sabemos que curso seguir na faculdade. Uns têm a média alta, outros não vão ao encontro daquilo que gostamos, uns não têm uma boa taxa de empregabilidade. Mas, lá achamos um que nos agrade minimamente. Acabamos o curso. Seguimos um mestrado e um doutoramento? Vamos para o mercado de trabalho? Ok, vamos para o mercado de trabalho. E agora?
Somos jovens, saímos agora do ensino superior. Foram três anos de trabalho árduo para completar todas as cadeiras a tempo. Somos lançados para um mundo totalmente novo, um mundo onde nós já não temos o controlo. Já temos idade suficiente para saber aquilo que queremos, mas a sociedade não nos deixa perseguir os nossos sonhos. Dizem-nos que nos temos de sujeitar ao que aparece.
Somos jovens, gastámos mais de meia vida em escolas e em livros. No entanto, a entidade empregadora diz-nos que não temos experiência suficiente para aquele trabalho. Porém, nunca ninguém nos deu a hipótese de adquirir uma experiência. Fomos programados pelo nosso sistema de ensino a decorar livros e a despejar tudo num teste que, mais tarde, irá definir a nossa inteligência. Achamos que quando chegarmos à faculdade, tudo será diferente. Mas, não é. Teremos nós a culpa de não termos adquirido experiência suficiente?
Somos jovens, estamos prontos para aprender mais e para praticar os nossos conhecimentos. Todavia, não nos oferecem emprego, longe deles fazerem tal coisa. Ao invés disso, oferecem-nos aquilo a que se chama um “estágio”. Ou seja, um trabalho igual aos dos outros trabalhadores da empresa, mas sem uma remuneração e, talvez, com mais carga horária. No fim do mês, recebemos mais um tópico para acrescentar ao nosso currículo. E aí de nós se recusarmos tal proposta, porque atrás de nós estão mais três mil licenciados à espera de uma falha nossa. Ao fim do nosso prazo de validade não nos é concedida uma oportunidade de trabalho. Claro que não. Somos postos na rua e o nosso lugar é fornecido a outro recém-licenciado, e assim sucessivamente.
Somos jovens, não queremos ser escravos. Queremos trabalhar, mas com dignidade. Estudámos mais de metade das nossas vidas para sermos socialmente aceites, contudo a sociedade não nos quer aceitar. Dizem-nos para termos juízo e que já temos idade para crescer. Mas, ao mesmo tempo, dizem que ainda somos demasiado jovens para marcar uma posição na sociedade. E que o nosso dia há-de chegar! A mesma sociedade que nos quer libertar é aquela que nos corta as asas, um pouco contraditório, não? Dizem que se vivermos na casa dos nossos pais aos 30 anos somos uns falhados, embora o nosso currículo diga que já passámos por 15 estágios diferentes e que estamos a caminho do 16º.
Somos jovens, somos o fim da cadeia alimentar desta comunidade. Os políticos queixam-se que a pirâmide etária portuguesa apresenta mais idosos do que jovens e que esta é uma realidade que temos de combater. Todavia, a única realidade que está a ser combatida é aquela em que os licenciados nas Universidades Portuguesas arranjam trabalho e têm, no seu país de origem, uma oportunidade de fazer vida e de sonhar.
Tendo em conta que em Portugal a escravidão foi abolida em 1869, os jovens são escravos de uma sociedade que não lhes permite sonhar ou ter quaisquer expetativas de vida. Quando Camões escreveu os Lusíadas também sonhou alto demais e ninguém lhe reconheceu valor enquanto estava vivo. Porém, depois de morrer, e até aos dias de hoje é considerado um dos heróis da nossa nação. Será que um dia, quando todos os jovens morrerem, também lhes será atribuído algum valor?

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