Tudo o que precisas é amor
- Ana Catarina Cabrito
- 25 de ago. de 2016
- 3 min de leitura
Reza a lenda que se fores amado por um poeta, serás eterno. Toda a poesia que te será dedicada jamais chegará ao fim. Mesmo que a folha de papel onde está escrita voe com o vento, as palavras lá escritas serão imortais, ainda que o vosso amor seja mortal. A prova disso são os poemas que os nossos ilustres heróis dedicaram aos seus amores. Todos eles amaram, todos nós amamos. E nenhum de nós conseguiu descrever o amor. Um dia, Camões disse “Amor é um fogo que arde sem se ver; É ferida que dói, e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer”. Depois, Pessoa acrescentou “Porque quem ama nunca sabe o que ama; Nem sabe porque ama, nem sabe o que é amar”. E eu digo que o amor é uma eterna indefinição.
Embora este sentimento continue a ser uma incógnita na vida dos poetas contemporâneos, ou até mesmo na minha vida e na tua vida, o amor já não é mais o mesmo. Outrora pensava-se que os adolescentes amavam de uma maneira louca, intensa e única, que não havia mais amor como o primeiro. Antes namorava-se por cartas, um beijo era sinónimo de dois corações unidos e acreditava-se em amores à primeira vista. Atualmente, não. Hoje os jovens têm desejo de sentir algo rápido, vivem na pressa de passar de um prazer para o outro, sem realmente apreciarem o prazer que estão a sentir neste preciso momento. Quero muito, mas por pouco tempo. Querem beijar, sim querem, mas não querem beijar com sentimento. Não sentem amor pelo próximo, nem amor naquilo que fazem. Fazem por fazer. Estão perdidos. Acreditam em amores à primeira vista. Apaixonam-se pela rapariga mais gira do Instagram ou que manda os Snaps mais giros e atrevidos. As cartas deram lugar aos piropos mais surreais “o teu pai é terrorista? É que és cá uma bomba”.
Não se apreciam mais os amores que os jovens vivem, porque eles não os vivem realmente. Agora olha-se com admiração para os casais que Hollywood representa nas diversas comédias românticas repletas de clichês. As raparigas desejam ser aquela velhinha que passa a estrada de mão dada com aquele velhinho, desejam encontrar o seu grande amor. Acham que saltando de rapaz em rapaz, acabam por encontrar a sua verdadeira alma gémea. Os rapazes não. Eles apreciam o melhor corpo, a melhor cara, não querem uma rapariga muito chata, mas querem uma que seja só deles. Contudo, eles podem ser de todas. Será isto o machismo moderno?
As relações destes adolescentes vivem de uma eterna competição para ver quem mete mais fotos com o namorado, que na semana seguinte dará lugar a outro, para verem quem mete a descrição com maior número de caracteres e com mais repetição da palavra “amor”. Precisaram eles de repetir tanto a palavra para acreditarem nela?
E se a relação acabar? “Deus me livre, de ir atrás dela. Gosto dela, mas tenho orgulho próprio. Não vou ser um cão atrás dela”. Não, parece que as pessoas não lutam por quem amam, porque se calhar nunca amaram realmente. Gostam, mas não querem de maneira nenhuma que os amigos achem que estão completamente apaixonados.
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança”. Tudo mudou desde a altura de Camões, até o amor. Apesar de ainda não haver uma definição que nos explique o porquê de gostarmos de alguém, parece que o mundo deixou realmente de gostar.
Mas eu tenho esperança. Eu tenho esperança de estar enganada e de que existam jovens com o coração pronto para o amor. Que vivam intensamente tudo o que sentem, que se entreguem àquilo que amam, seja uma pessoa ou uma profissão, de alma e coração.
Neste mundo onde o amor está presente em todo o lado, música, filmes, séries ou livros, devia também estar presente em todos os nossos corações e, sem dúvida, que o mundo inteiro iria ser um lugar mais feliz. É verdade que temos de escolher as nossas lutas, mas não valerá mais a pena lutar por amor do que por petróleo? Esta é a visão de uma romântica incurável.

Comentarios