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O negro é vitimizado, senhor Henrique?

  • Mauro Salgueiro Delca
  • 26 de ago. de 2016
  • 3 min de leitura

Antes de iniciar, eis uma breve contextualização: Henrique Raposo, cronista do Expresso teve um artigo publicado, com o seu nome, a 9 de Agosto, a defender que o movimento “Black Lives Matter”, que exige o igual tratamento para negros e brancos por parte das forças policiais estadunidenses, é apenas uma “vitimização do negro”. Parece-me estúpido defender tal coisa. Até cá em Portugal as minorias étnicas são descriminadas. E nos Estados Unidos da América tem-se verificado uma discriminação tal por parte da polícia, que se enumerasse exemplos, Camões perderia o outro olho.


Como achei que o título era ridículo e o seu autor não deveria estar bem informado, abri a crónica, que afinal, na versão online é só meia-crónica (e eu não tenho o código para desbloquear o resto e tal) e comprovei: “ok, o gajo está mesmo muito mal informado. Chega até a ser ignorante.”


1. Primeiro parágrafo - primeiro excerto: “O típico videoclip de hip-hop é assim: um cantor negro e os seus amigos andam pelas ruas acenando Glocks, 38s e Magnums enquanto dão palmadinhas em bundas ao léu. A instrumentalização machista do corpo feminino e a glorificação das armas estão no centro da canção negra por excelência.”


Certamente o leitor deste meu artigo terá também muito a dizer sobre isto. Eu vou ser irónico. “Ai é? São só negros que fazem hip-hop? Só há rappers negros? Ah... e todos os vídeos de hip-hop são um tributo à cultura de armas e à obsessão pelo sexo e pela nudez feminina? Ah, perdão, o ‘típico videoclip de hip-hop’. Engraçado... da última vez que reparei, a descrição que o senhor Henrique fez encaixava mais em ‘gangsta rap’, que é só um dos muitos subgéneros de hip-hop.” Fiquemo-nos por aqui com a ironia, porque o homem foi logo meio racista a chamar ao hip-hop “canção negra”. Como suponho que Henrique Raposo não goste de hip-hop, nem de pretos (ou negros, como quiserem chamar. Eu não sou racista e sei que ninguém me irá agredir por dizer “pretos”) atribuiu ao rap o termo “canção negra”. Talvez por não gostar de pretos mas gostar de jazz e R&B não atribuiu a estes géneros o mesmo termo.


2. Primeiro parágrafo - segundo excerto: “Portanto, quando se fala em armas nos EUA, convém perceber que a cultura do gatilho feliz não é exclusiva dos brancos, dos hillbillies, dos sulistas confederados. Os negros também têm a sua NRA, chama-se hip-hop. O curioso é que é raríssimo ouvirmos algum americano do mainstream mencionar esta evidência da cultura negra.”


Como gosto de humor negro (não foi propositado o uso do termo, juro) vou dizer: fiz análises ao sangue hoje de manhã, mas se as tivesse feito depois de ler este parágrafo não sei não me descobriam qualquer doença venérea. Não, Henrique, o hip-hop não é a “National Rifle Association” (Associação Nacional de Rifles) dos pretos. O rap é um dos géneros de música tradicionalmente mais pessoais e mais intimistas, e toda (de forma geral) a cultura hip-hop deve ser encarada como arte, não como um tributo às armas livres e ao uso das mesmas. Mas se é do seu agrado entrar por estereótipos sem grande respeito, então deveria fazer da sua próxima crónica um guia para ensinar pais caucasianos norte-americanos que não se deve educar os filhos de modo a confundirem uma escola com um campo de tiro ou com o jogo “Counter Strike”.


No terceiro parágrafo, o autor defendeu que é pior criticar um negro do que um muçulmano porque será chamado de “racista”, enquanto que no segundo caso somente será um “islamofóbico”. Claramente parece-me que Henrique Raposo necessita de entender que não criticou um negro, mas sim toda uma cultura que associou, indiscriminadamente, à população negra. Ninguém se impunha a que criticasse um (ou vários) polícia negro que tivesse morto civis brancos que não ofereceram resistência. Porque “White Lives Matter”. E “Black Lives (também) Matter”, senhor Henrique. E também ninguém se impunha a que dissesse que não gostaria de hip-hop. Simplesmente distorcer completamente o seu conceito em tom ridiculamente crítico e associá-lo somente à população negra... parece racista.


Se Camões não tivesse os factos direitos na sua mente, não teria escrito os Lusíadas. Aprenda com Camões, senhor Henrique. Um abraço.


P.S.: fico feliz de o senhor não ser norte-americano. Ainda tenho esperanças que Donald Trump não vença as eleições.



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