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O facilitismo da língua portuguesa é “top”

  • Mauro Salgueiro Delca
  • 5 de set. de 2016
  • 2 min de leitura

Não. Não vou aplaudir o facilitismo da língua portuguesa. O título é meramente irónico. Eu gosto de ironias, como dá para perceber com os meus anteriores textos para O Que Diria Camões. E juro mesmo, há poucas coisas que me enervam mais do que gente que facilita a língua portuguesa ao usar a palavra “top”. Se calhar acima disto listam-se coisas como o kizomba e o reggaeton e pouco mais.

Ora, parece-me óbvio que a geração atual peca por uma falta de bom senso linguístico. E se aceito e até digo o “yah” como “sim”, por exemplo, não consigo remar a favor do termo “top”, cunhado pela mentalidade “body over brains” de reality shows... e da geração atual de “swaggers” e gente pouco informada no geral. E a razão de dizer “yah” e não “top” nem aceitar com grande cabeça que o digam é simples.

Enquanto o “yah” significa “sim”, o “mano” significa “amigo próximo” e etc., o “top” serve para adjetivar quase tudo o que há de positivo ou de meritório (e pseudo-meritório) no mundo. Se passa uma rapariga atrativa, o rapaz diz para o amigo: “esta gaja é mesmo top”; se uma associação recolhe fundos para construir um abrigo para animais ou crianças em risco: “que cena mais top”. Ou seja, o “top” tanto pode descrever aquela miúda de 10 anos que salvou milhares de pessoas de um tsunami em Phuket, na Tailândia em de Dezembro de 2004 com os conhecimentos que adquiriu na aula de Geografia como um labrego numa tasca que deu um arroto de tamanha audibilidade que fez o proprietário da tasca pagar-lhe a próxima cerveja.

Portanto, o “top” descreve um dos feitos mais heroicos do século XXI e um arroto muito alto, que é apenas uma “barrasquice” de alto nível. Trata-se, na verdade, de um termo que adotámos do inglês mas que até os ingleses, americanos e todos os falantes da língua têm a consciência que não serve para descrever qualquer coisa. Ninguém em Phuket disse para a miúda: “bloody hell, you saved me, you’re top”. Nem sequer numa pub de Dublin um bêbado disse para o outro: “oh, what a burp, you’re top”. Nós é que não sabemos filtrar influências e ultimamente o que trazemos do estrangeiro é ou ações básicas ou termos básicos. Comparando-nos com a Inglaterra, poderíamos importar a “royalty” toda daqueles lados para as nossas ações e termos, mas preferimos tornar-nos “chavs”.

Saudades em que o “top” em português era apenas uma lista ordenada de coisas boas/mais vendidas/etc. ou uma peça de roupa para vestir o tronco de uma rapariga. Porque essas coisas faziam sentido, uma vez que “top” significa, na verdade “cima”.

Senhoras e senhores, é esta a língua de Camões. Ou pelo menos, foi nisto que se tornou com utilização de termos que nada querem dizer na verdade. Como o “top”, pois claro.


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