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Soam falsos alarmes

  • Ana Catarina Cabrito e Tiago Correia
  • 7 de set. de 2016
  • 4 min de leitura

O terrorismo é um dos assuntos mais falados atualmente pelos media. No passado domingo o aeroporto de Los Angeles, foi encerrado devido a um possível tiroteio nos terminais 4, 7 e 8. Contudo, não passou de um falso alarme. Quanto mais se especulam os ataques terroristas, mais falsos alarmes existem. Estas variáveis parecem correlacionar-se perfeitamente. Até que ponto não estarão os media ligados a esta relação?

Esta notícia permite-nos refletir sobre a forma involuntária com que os media se tornam motores de “medo“ para a sociedade e que os tornam publicitários de quem pretende espalhar o terror e chamar a atenção da opinião pública.

Em 1985, a primeira ministra do Reino Unido, Margaret Tatcher afirmava que a publicidade que se dava ao terrorismo era o “oxigénio“ que os grupos terroristas precisavam. Sabendo que estamos num tempo em que os sistemas audiovisuais mediatizam a larga escala os acontecimentos que vão ocorrendo pelo mundo, o pânico do terrorismo cresce à medida que estes grupos percebem que os media são o maior trunfo que têm para difundir os seus ideais a quem os apoia. Ao mesmo tempo mostram a sua força que aumenta progressivamente com a divulgação constante dos seus atos por parte dos meios de comunicação social.

Cada vez mais o Ocidente alimenta inconscientemente os grupos radicais. Somos uma agência de marketing gratuito sem sequer nos apercebermos disso. Ora, vamos refletir: no atentado ao Charlie Hebdo, passaram-se dias e semanas a falar no atentado, os media passavam a maior parte do seu tempo a fazer especulações sobre quem teriam sido os culpados ou quem eram as famílias da vida. Investiu-se tempo e dinheiro em reportagens e mais reportagens sobre aquele atentado, sobre aquele local especifico, deu-se ao Estado Islâmico tempo de antena. As redes sociais foram invadidas por fotos e descrições enormes que acabavam em #JeSuisCharlie.

Fechamos os olhos a esta publicidade gratuita e continuamos a publicitar o Estado Islâmico e todos os seus grupos radicais. Com a nossa sede da informação acabamos por não nos aperceber que alimentamos as crenças destas pessoas e alimentamos, também, a vontade de “ser famoso” de tantas outras pessoas. Qualquer mala desconhecida esquecida num banco de jardim é motivo para parar o trânsito e para que todas as rádios e televisões locais se desloquem até ao local para tentarem obter o maior zoom daquele objeto estranho. As pessoas sabem que é assim que, atualmente, o mundo funciona e, por essa razão, fazem de propósito para se esquecerem dessa mala naquele jardim para fazerem soar os falsos alarmes.

Em tudo aquilo que se torna mediático há determinados pontos de vista que vão sendo apontados a todos os envolvidos desse assunto. As opiniões são divididas quando se discute a forma como o terrorismo deve ser exposto pelos media. Para uns ausentar a informação é uma vantagem porque os grupos terroristas perdem a força que causa o medo constante na sociedade. Do outro lado está um grupo de pessoas que condena a ausência de informação acusando a comunicação social de não cumprir com as regras e os valores da liberdade de imprensa. A estes dois pontos de vista levantam-se duas questões retóricas. Até que ponto a ausência de informação não promove um desconforto ainda maior por parte da sociedade que se sentirá desconhecida sobre os factos? E desde quando provocar medo e alimentar inconscientemente os grupos radicais que se conhece é uma forma de Liberdade?

Nos países onde o poder é menor, quando existe um ataque terrorista pode notar-se uma maior ausência de informação. A informação é dada mas não é posta em destaque. Já quando falamos de atentados como os do 11 de Setembro, Charlie Hebdo ou ainda o 13 de Novembro em Paris o tratamento da notícia é dado de outra forma. Cansa-se o leitor ou o telespetador com horas e horas de reflexões sobre o caso ocorrido. O cansaço acaba por provocar medo porque a cada hora percebe-se que estamos num beco com difícil saída. As ações governamentais dos países e a forma como controlam os meios de comunicação social do seu país podem também ser causadoras duma força imparável por parte das massas terroristas. Isto porque uma nação forte, onde o poder é incalculável tem todos os recursos para combater os terroristas e divulgá-los para mais rapidamente serem encontrados, esquecendo que ao mesmo tempo estão a amedrontar os seus próprios cidadãos com um clima de terror. E ao mesmo tempo essa divulgação deixa cada um dos terroristas com o seu objetivo cumprido. O de criar fama com um determinado ato de violência.

Nunca Camões viu tamanha violência entre os seres humanos. Este imortal poeta nunca iria orgulhar-se de um mundo que se tornou no Cabo das Tormentas, onde não se pode viajar para uma cidade europeia sem se recear um atentado terrorista, onde os media não dão descanso a este tipo de assuntos. O nosso herói não iria achar inspiração num mundo onde o terrorismo tira cada vez mais protagonismo ao amor e à paz.


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