3%: Uma prenda do lado de lá

Este Natal deixei de lado as rabanadas e azevias, e aproveitei o meu tempo livre para me dedicar a essa arte tão complexa e tão pouco produtiva que é ver séries.

Durante anos, e tal como uma parte significativa da população portuguesa, habituei-me às novelas brasileiras, que em tempos se assemelhavam a produções "holliwoodescas", pelo menos aos olhos dos portugueses. Precisei apenas de uma semana, para perceber que o Brasil é muito mais que as novelas da Globo.

Brasil. Esse país tão tropical e exótico, que me ofereceu "3%", a nova aposta da Netflix que tem vindo a ganhar adeptos um pouco por todo o mundo. Esta é a história de uma sociedade futurista e altamente distópica, em que apenas 3% da população brasileira tem acesso a uma vida digna e justa. Este conceito tem como premissa base a mesma do filme "A Ilha", e que por sua vez já se sabia inspirada em outros universos idênticos.

Apresenta-se ao espetador dois tipos de sociedade, a do "lado de cá", que é pobre, insegura, perigosa, e a do "lado de lá", onde se encontra a classe elitista e rica. O que separa estas duas realidades é o "processo", uma série de provas pelas quais os jovens devem passar para provarem que merecem estar do outro lado.

Rapidamente percebemos que "3%" é muito mais que isto. Até mais de meio da primeiro temporada, cada episódio é dedicado a uma personagem em particular, e é dessa forma que passamos a conhecer a profundidade destas pessoas, e a finalidade de cada uma. A beleza desta produção está na capacidade extraordinária de criar nos espetadores sentimentos opostos pelas personagens, o que nos leva a odiar uma personagem que vamos mais tarde acabar por admirar, e vice-versa.

Os 8 episódios da única temporada lançada até então sabem a pouco, mas servem essencialmente para provar que o Brasil, que já nos tinha dado cartas interessantes também na 7ª arte, consegue muito mais na área da representação do que ser apenas o melhor país do mundo a produzir novelas.

Deixo-vos com o trailer desta série.