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Música: temos a qualidade que pedimos

  • Mauro Salgueiro Delca
  • 1 de fev. de 2017
  • 3 min de leitura

O background deste artigo é muito simples mesmo. Sigam-me aqui: praticamente sou obrigado a escrever sobre isto. Ora, como toda a gente, tenho na música uma das minhas distrações. Como já é sabido (credo, parece que digo isto em todos os artigos) adoro rap. E surpresa: também gosto imenso de rock. Sou um tipo cuja playlist contém Eminem, Dealema, Linda Martini, Dropkick Murphys e Gogol Bordello. Sim, provavelmente os dois primeiros não têm muita habituação de partilhar playlist com os três seguintes.


Mas pronto, ignoremos isso. Gosto de ouvir música com algum conteúdo, se me permitem que o diga. E, tendo estado sem acesso ao meu próprio computador que esteve a arranjar, quando ele voltou tive de fazer login no YouTube de novo. Como tal, perdi uns cinco minutos a ver as sugestões de música por default antes do login. (“Ugh!”). E senti aí que era hora de falar nisto.


Por infelicidade minha, neste momento, tenho acesso à rádio. E infelizmente também tenho acesso a televisão por cabo. Ou seja, tenho acesso à MTV… e a novelas da TVI (“és um bocado parvo. Não precisavas de cabo para ter TVI”. Eu sei, como é óbvio) recheadas de uma coisa chamada kizomba, um estilo africano que nos últimos tempos passou por uma banalização imensa, rotulando-se agora como “a banda sonora da mediocridade”. Por mim, claro. Antes era aceitável.


Mas pronto, tomemos atenção ao que passa na MTV e nas rádios principais, o que se ouve em bares e em telemóveis por este mundo fora. Toda a música pop soa ao mesmo. Amor, sexualização/banalização do mesmo e ainda há alguma coisa na linhagem de “when I was a kid”. Dêem-me paciência. Já não há uma distinção no seio da pop em que várias personalidades coexistem no topo. Não existe um David Bowie camaleónico a coexistir com uma Tina Turner que, apesar de ter uma personalidade menos vincada, era a voz de música com sentido. E digo isto não sendo particularmente fã de nenhum dos dois.


Hoje em dia temos body (e booty) culture a dominar a música. A música é feita para “pitas” pelo mundo fora começarem a ter um obsessivo culto pelo corpo e por salientar as suas ainda inexistentes curvas para dar nas vistas. Miley Cyrus e Ariana Grande, que as ditas “pitas” se habituaram a ver em séries juvenis são duas impulsionadoras correntes dessa cultura. É meio caminho andado para que exista essa dita influência juvenil que nada de positivo tem.


E a culpa disto, de quem é? Nossa. Somos pouco exigentes na música que ouvimos e cantamos. É lógico que um “Grab on my waist / And put that body on me” (até o Ed Sheeran já parece caminhar em direção a esta rua) de um refrão simples fica mais facilmente na cabeça e tem uma mais simples compreensão do que um refrão que diga “Sing with me, sing for the years / Sing for the laughter, sing for the tears / Sing with me, just for today / Maybe tomorrow, the good Lord will take you away”. E as pessoas trauteiam e assimilam a mensagem de toda a mediocridade que passa nas rádios. E é triste, mas não há cuidado para que assim não seja e há preguiça de procurar alternativas.


Citando Pessoa em vez de Camões: “Mudam-se os tempos / Mudam-se as vontades”. E esta vontade infelizmente já parece durar tempo de mais… e não parece mudar.


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