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Os muros que dividem o mundo

Oito meses depois do muro de Berlim cair, a banda Pink Floyd realizou um dos maiores e mais conceituados concertos da história da música para celebrar esta queda.


Deixem-me contextualizar-vos. The Wall, o álbum que foi teatralizado e interpretado neste grande concerto discute temas como o abandono e o isolamento. Aos olhos de Roger Waters, responsável pela criação conceptual, é gerada uma história sobre um muro metafórico que isola a pessoa de tudo o que o rodeia, amigos e familiares.


Desde pequena, e porque os meus pais cresceram no auge de todas as questões políticas e sociais que marcaram os anos 70 e 80, lembro-me de inúmeras vezes ver e ouvir este concerto no ecrã da minha televisão. Considero este um dos maiores espetáculos musicais que já foram criados, por diferentes razões: pela estrutura, pelo conceito que está por trás, pela organização, pelos artistas que participaram e por último mas não menos importante, pelo simbolismo histórico que tem. Tendo em conta que o concerto foi realizado para comemorar a queda do muro de Berlim, sensações de homogeneidade, emancipação, libertação e segurança são transmitidos e comemorados, na esperança que se mantivessem no futuro.


“Let´s build the wall!”. Quando na convenção republicana de Cleveland, Donald Trump, na altura ainda apenas candidato à presidência dos Estados Unidos da América, referiu esta frase mostrando o seu intuito de construir uma muralha na fronteira entre os Estados Unidos e o México, deu-me uma sensação de retrocesso. Mais uma muralha a ser construída. Autoridade legal a Trump para o fazer, agora que foi eleito presidente, não falta. De facto, como tal, ele pode fazer e decidir tudo o que quiser e ninguém o pode impedir. É um dos homens com mais poder no mundo, e mesmo que muitos o achem uma farsa, a verdade é que nada o pode parar. Tal como referi, a nível legal nada o impede. O problema destas decisões entra no âmbito moral e aí é que muitas vezes estas ganham um peso inconcebível. Peso este que aparentemente não afeta pessoas como Trump. Cortar a ligação entre países, proibir pessoas de se movimentarem livremente, julgá-las pela sua nacionalidade. Tudo questões, que, em pleno século 21 parecem pré-historicas. Mas não, são bem atuais.


Dois anos. Dois anos e os Estados Unidos da América e o México vão estar completamente separados por um muro fronteiriço. Muro este que já tem cerca de 1.130 quilómetros construídos, com barreiras erguidas, de forma descontínua, ao longo da fronteira. Mas não se deixem enganar. Esta medida vem já dos anos 80, porém foi apenas em 1994 que Bill Clinton decidiu iniciar a construção nesta fronteira contra a imigração ilegal. Este muro já separa cerca de um terço da fronteira dos EUA e México, sendo que a construção do que falta nos espaços abertos é o que de facto Trump promete terminar, fechando assim qualquer tipo de acesso ou contacto entre os dois.


A questão aqui é perceber porquê. Qual é a necessidade de continuar a construir muros entre as fronteiras dos países. Porque desenganem-se se pensam que este é o único. Arábia Saudita-Iraque, Espanha-Marrocos, Grécia-Turquia, Hungria-Servia, Macedónia- Grécia. Estes são apenas alguns dos exemplos de fronteiras que foram bloqueadas, e onde não há passagem possível.


Como podemos existir sem coexistir com os outros? Como é possível viver bloqueados por fronteiras que nos fecham num só território? Porquê continuar neste processo de afastamento e de isolamento? Controlo de migração, luta contra os refugiados, segurança interna, afirmação nacionalista, impedir a entrada de pessoas indesejadas. Estas razões não podem ser válidas num mundo em que a globalização, os direito humanos, a luta contra o racismo, a inclusão, a troca de culturas e formas de viver são conceitos bastante presentes e que não se podem ignorar.


A suspensão de programas de apoio aos refugiados tal como a falta de apoio civil é um dos maiores problemas que temos atualmente em mão. Façam-se pontes e derrubem-se os muros. Porque é assim que deve ser, pelo bem da humanidade. Pela salvaguarda do nosso futuro, pela continuação na luta da igualdade e pela emancipação sem limites.


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