Personalidade online
- Mariana Ferreira
- 9 de fev. de 2017
- 2 min de leitura
Estamos na era de apenas comer alimentos baseados em soja, sem glúten e acabados de cultivar na varanda. A época das notícias no facebook e das novas revoltas em que os protestos são mais vivos nas redes sociais e nos media do que nas ruas. A época do afeto transmitido por um emoji no chat do facebook em vez de um abraço presencial. Época em que cada individuo tem uma plataforma online e cria conteúdo “original”. Queremos todos fazer o mesmo mas marcar pela diferença, queremos mostrar que somos únicos e ao mesmo tempo ser “relatable” e ter likes. No meio disto tudo, onde fica a personalidade de cada um? Como é criada uma identidade se tudo o que queremos é agradar alguém? Queremos mostrar cada passo que damos no nosso dia-a-dia para que saibam que estamos a aproveitar a vida e nem paramos para olhar a paisagem da qual estamos a tirar uma foto para postar no instagram. Existe uma grande ansiedade de separação da pessoa e do seu Iphone. É geral e é preocupante, porque já começa cedo. As crianças já não brincam, jogam nos tablets. Os adolescentes já não vivem os dias, fotografam-nos e os adultos acreditam em todas as notícias falsas do facebook. Os mais idosos, no meio disto tudo, são quem consegue manter uma conversa com contacto visual, que não desviam para olhar para um ecrã qualquer.
E não me interpretem mal, não quero soar hipócrita porque também gosto do meu leite de aveia, do meu Iphone e de fazer vlogs para o youtube. Mas sinto que há momentos que não são preciso partilhar, porque já os estou a partilhar com quem quero, quem está comigo no momento. Tenho uma vontade incrível de pegar no telemóvel quando estou aborrecida. Mas quando estou a ter bons momentos é raro sentir-me no desejo de os partilhar com todos os meus seguidores. Há uma parte de nós que fica escondida das redes sociais, há uma parte de nós que só alguns vêm, e isso é bom. A privacidade é boa, a identidade própria é boa e a não partilha de todos os momentos especiais da vida é boa. É o que somos verdadeiramente. Porque o que mostramos é muitas vezes uma personagem. É o que queremos que pensem que somos.
Ninguém põe uma foto do seu pior dia pela simples razão de que queremos que pensem que somos felizes, que temos uma vida boa, e que basicamente temos uma vida de alimentos de soja e sem glúten. Mas a realidade é que também temos os nossos dias de pizza hut e hambúrgueres. E nem o bom, nem o mau, tem que ser partilhado com todos os seguidores, esses momentos devem ser partilhados com as pessoas que ocupam um lugar no nosso coração.
E sim, podemos ser verdadeiros nas nossas publicações nas redes sociais, sejam elas felizes e ou tristes. Mas há um prazer muito grande em guardar o melhor para nós.

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