Capitão Fantástico: O cinema e a dualidade de sentimentos
Nem todo o cinema de Hollywood tem de ser óbvio, estereotipado e extravagante. Capitão Fantástico vence pela vertente humanista de uma família pouco vulgar, num filme que emociona, que faz rir e que nos obriga a sentir várias coisas pelas mesmas personagens.
Esta é a história de um pai que se vê sozinho com os seus 6 filhos após a morte da esposa. Até aqui sugere-se que não existe nada de anormal, no entanto, esta é uma família que vive longe de tudo e todos, com um estilo de vida alternativo e ambientalista, onde se privilegia a saúde física e mental, e a inteligência e culturalidade, ainda que nenhuma destas crianças tenha andado na escola.
O filme tem uma nomeação aos Óscares pela atuação de Viggo Mortensen, conhecido pela saga Senhor dos Anéis. Apesar de achar que Mortensen dificilmente levará para casa a estatueta dourada, é completamente justificada esta nomeação. O ator assume o papel difícil e pesado de ser o pai destas crianças, e cria com o espetador uma ligação de carinho e entendimento até quando este toma decisões absurdamente erradas, o mesmo espetador que ainda chega a duvidar das suas intencionalidades, e que mais tarde se arrepende de o ter feito. A relação entre este pai e estes seis filhos é absolutamente deliciosa, num filme leve mas intenso ao mesmo tempo.
A tarefa desta produção é levar o espetador a identificar-se com uma história que dificilmente se pode assemelhar à sua, já que esta família possui hábitos pouco vulgares e alguns deles até questionáveis, porém é uma tarefa bem conseguida, até porque os 6 filhos são bem distintos uns dos outros.
Existem ainda em “Capitão Fantástico” duas grandes metáforas. A primeira, que critica a sociedade consumista que vive à base do fast-food, dos jogos de consola e da privação de interação social, e a segunda, sobre forma como os adultos falam com as crianças e abordam temas como a morte e a sexualidade. Nunca um filme me deu tanta vontade de rir e de chorar, e esse diria que é um dos maiores feitos desta maravilhosa produção.
