top of page

POSTS RECENTES: 

Palavras para quê?

Quem me conhece sabe que eu gosto de escrever e de brincar com as metáforas e com os sentidos das palavras. De certa forma vejo a escrita como uma pequena arte coberta pelos seus enleios e tramas que poucos entendem na totalidade. Não no que está escrito, mas no que o escritor deixou ficar subentendido.


Ora, com isto não falo das metáforas e das figuras de estilo. Falo sim do que elas escondem. Dos nomes que tapam, das emoções que evocam, e das caras que escondemos por detrás de conceitos. Falo daquelas palavras soltas, das semânticas trocadas e dos truques que damos às frases. Falo de escrever sobre alguém, sobre o nosso passado, sobre a nossa história pessoal de vida e de o mostrar ao mundo. Ter a coragem para escrever sobre aquilo que a nossa consciência quer libertar. Mas viver com o medo da frontalidade fruto da liberdade e nesse medo, esconder-nos atrás de figuras de estilo. Atrás de alusões a eventos épicos e surreais que se calhar até de certa forma o foram reais.


Falar sobre o mar nunca foi falar sobre o mar. Falar sobre o vazio nunca foi falar sobre o vazio. Invocar o vento e o fogo nunca o foi, por si só, isso. Na água vejo tempestade, vejo tranquilidade, vejo esperança, vejo saudade. E é nesses conceitos que escondo quem sou. É nesses conceitos que liberto quem fui. Ao desafiar os deuses, desafio um certo fatalismo e tendências que me levaram a escolhas, certas ou erradas. Ao deixar-me queimar pelo fogo, escolho deixar as emoções fluírem para este teclado, onde escrevo palavras por vezes irrefletidas, por vezes naturais.


Agora, essa flow de palavras. Será até de todo flow o termo mais adequado? Quando saem naturais, sem dúvida que aquilo que escrevemos reflete pura e direta, o que sentimos. Mas agora, quando forçamos. Aí é que se complica. Aí entramos numa batalha em terreno inclinado. Poderemos usar o intelecto para descrever e mergulhar na nossa paisagem interior com uma lucidez rara? Ou acabaremos a escrever parágrafos medíocres que não levam ninguém a identificar-se com o que é dito? São esses que me preocupam. São esses falsos poemas, falsos textos. Que não refletem, nem direta nem indiretamente, o que são supostos refletir. Um pedaço de história pessoal.


Por isso lanço a questão. Palavras para quê? Gostava, com todas as minhas forças, que houvesse uma forma mais verdadeira de me expressar e de ver os outros expressarem-se. Mas estamos presos à limitação da semântica e das capacidades cognitivas da mente para descrever conceitos demasiadas vezes difusos e abstratos. Felizmente somos acompanhados da música, do desenho, da escultura e de todas as outras formas de arte. E assim tem de ser. A arte é uma catarse e uma magia cujo reservatório repousa dentro do nosso interior. À espera de transbordar e de se libertar perante o mundo.


E assim escrevo, em inglês porque também o posso.

We all crave for someone or something who truly ressonates with our soul.

Quanto mais cedo o reconhecermos, melhor.



bottom of page