Munique pode ensinar-nos algo
- Mauro Salgueiro Delca
- 28 de jul. de 2016
- 2 min de leitura
Há uns dias (22 de Julho) Ali David Sonboly, um jovem com dupla nacionalidade germânica e iraniana entrou num centro comercial em Munique e disparou mortalmente sobre nove vítimas (todas pertencentes a minorias étnicas) e, em seguida, suicidou-se.
Filho de refugiados chiitas, Ali David identificava-se como ateu e era descrito como sendo um jovem normal, bem educado, inteligente, tímido e sem problemas com a vizinhança. Até tinha um part-time a distribuir jornais. Mas nem tudo o que parece é. Porém, tudo o que é tem razões para o ser.
E a verdade é que Ali David Sonboly era um jovem que, no dia 22 de Julho, sabia bem o que estava a fazer ao atirar mortalmente sobre três turcos, três kosovares, um grego, um húngaro e um romeno. Na maioria eram adolescentes e, apesar de a polícia garantir que Sonboly não tinha planeado ter vítimas em concreto, não deixa de ser sonante que nenhuma vítima seja um alemão puro.
Mais sentido faz se tivermos em consideração que o jovem publicou na internet a mensagem “Turkey = ISIS” e que o mesmo se identificava com o AfD, partido alemão de extrema direita. Consta ainda que Ali David Sonboly admirava Anders Breivik, terrorista norueguês e que tinha uma obsessão com atiradores em massa, principalmente perpetradores de tiroteios em escolas.
Voltando à última frase do segundo parágrafo: “tudo o que é tem razões para o ser.” Ali Sonboly era um jovem que foi tratado por depressão, tendo estado internado por dois meses em 2015. Depressão essa que se terá devido a sete anos de bullying na escola, por parte de diferentes grupos étnicos, tendo inclusivamente sofrido abusos físicos em 2012. Um ex-colega de Ali assumiu mesmo: “nós sempre gozámos com ele e ele já ameaçava que nos matava.”
Estamos no século XXI. Nunca a depressão foi um assunto tão falado mas no fundo, ainda há muito pouca importância a ser dada ao tema. Pois bem, é lógico que o estado mental de um jovem que passou metade da sua vida sujeita a maus tratos físicos e psicológicos por parte de colegas não será tão saudável como deveria. É lógico que o seu dia-a-dia influenciará a sua maneira de pensar e os seus ideais.
É claro que Ali David Sonboly foi o responsável pelo ataque de 22 de Julho. Mas é bem claro que não foi o único. E a maior culpa... que se atribua à sociedade. Temos todos uma lição a aprender com Munique. Aliás... até com Sonboly. Nesta história tudo foi errado, tal como na maioria dos atentados em escolas americanas, por exemplo. E temos que nos mentalizar que a mudança passa por todos.
O que Camões diria sobre isto? Não sei. Mas certamente não se orgulharia da sociedade em que vivemos. Eu não me orgulho. As vítimas do tiroteio que descansem em paz. Ali David Sonboli inclusivamente

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